Rosimara Mendes Pedro Braga (*)
Após
vivenciarmos a pandemia da covid-19, muitas pessoas ficaram desempregadas e
inúmeras empresas decretaram falência, fechando suas portas por falta de
recursos para manter os custos diários. Não bastando isso, muitas pessoas
ficaram adoecidas e sem fonte de renda, não podendo sequer beneficiar-se dos
recursos garantidos pelo INSS, pois não estavam registrados em carteira e
viviam na informalidade.
Segundo
o Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU de 2021, a taxa
global de extrema pobreza aumentou de 8,4% em 2019, para 9,5% em 2020, primeiro
ano da pandemia. Países em desenvolvimento, como o Brasil, sofrem ainda mais
por conta do recuo da economia global, pois os fluxos de investimentos
estrangeiros reduziram até 40%, e o endividamento dessas nações aumentou drasticamente.
Neste
cenário, faz-se necessário ressaltar a importância em se construir uma reserva de emergência para os
momentos de crise e imprevistos. O desemprego, as doenças e as crises
econômicas são inevitáveis obras do acaso. Contudo, podemos passar por essa
fase com mais tranquilidade, se soubermos trabalhar com uma reserva de
emergência.
Um
dos maiores obstáculos para a criação da reserva de emergência é a falta de
hábito de pouparmos dinheiro que está enraizado em nossa cultura. Segundo dados
obtidos de um estudo realizado pela Unicamp em parceria com o Instituto Axxus e
a Abefin, 80% dos brasileiros não conseguem realizar nenhum tipo de
investimento, e os outros 20% poupam apenas quando sobra dinheiro no fim do
mês, ou ainda, apenas fazem aplicações em fundos mensais.
Mas,
o que seria essa reserva de emergência? É um valor que destinamos todos os
meses para uma conta específica e que utilizaremos somente nos momentos de
crise e necessidades emergenciais. Como não podemos prever quando esses fatos
podem ocorrer, podemos nos prevenir com esse recurso econômico. Com isso,
evitamos recorrer a bancos para pegar empréstimos ou utilizar nosso cheque
especial. Ao nos programarmos dessa forma, deixamos de pagar juros altíssimos
nas horas de necessidades.
Uma
reserva é definida conforme o valor dos seus “custos fixos essenciais” para sua
sobrevivência do mês. Podemos ter como exemplos de despesas essenciais, as
contas residenciais, alimentação, transporte e saúde. Tudo o que foge dessas
despesas fixas essenciais não será computado para fins de reserva de
emergência. Assim, cada pessoa definirá o valor de sua reserva conforme suas
necessidades básicas.
A
título de exemplificação, podemos considerar que se você é um empregado CLT que
tem um custo mensal de R$ 3.000,00 por mês (custos fixos essenciais), deverá reservar o valor de R$ 3.000,00
por pelo menos seis meses. Isso significa que a sua reserva deverá chegar ao
valor de R$18.000,00. No caso de empresários que possuam negócios próprios, os
especialistas recomendam que se tenha pelo menos 12 meses guardados do seu
custo fixo essencial.
Mas
onde esse dinheiro deve estar “reservado” exatamente? Esse valor deve estar em
um tipo de conta que possua liquidez imediata, segurança e baixa volatilidade, de
modo que o dinheiro possa ser retirado a qualquer momento.
É
importante ainda salientar que esse valor será construído no decorrer de sua
vida, reservando-se um valor mensalmente e deixando, de preferência, em uma
conta de investimento, separada da conta corrente utilizada diariamente.
Diante
de todos os fatos vividos nessa pandemia, em que muitos não têm como comprar
comida, pagar aluguel e manter seus custos fixos essenciais, assim como a
grande quantidade de empresas que decretaram falência em poucos meses, vemos a necessidade real
de programarmos essa reserva para termos uma saúde econômica realmente
sustentável, de modo que possamos ter tranquilidade em tempos de dificuldades. Vemos
como extremamente indispensável a utilização desse recurso financeiro, para que,
quando passarmos novamente por esses momentos de crise (sim, esses momentos
sempre estarão à nossa porta), estejamos melhor preparados para tomarmos as
decisões corretas no nosso dia a dia.
Recorde-se:
não podemos controlar as crises financeiras e os imprevistos da vida, mas
podemos nos preparar para passamos por tais momentos com menos sofrimento e sem
desespero, com mais calma e paz.
*Rosimara Mendes Pedro Braga é contadora e consultora
financeira pessoal. Atualmente é professora dos cursos de pós-graduação em
Contabilidade e Finanças do Centro Universitário Internacional Uninter.