(*) Luís Fernando Lopes
Desde o seu início, a CPI da Covid-19 no Brasil tem sido palco político de disputas intermináveis, nas quais interesses pessoais e partidários parecem ser colocados acima do próprio objetivo almejado pela comissão: investigar e esclarecer os motivos de uma gestão problemática da pandemia no Brasil que, além das graves consequências para a população, tem sido motivo de preocupação internacional.
A seriedade do que se investiga parece ser ignorada por alguns que preferem tumultuar e aplaudir apenas os que contribuem para negar o problema e considerar a situação normal, apesar dos fatos evidenciarem a falta de compromisso e incompetência. Por outro lado, também os que se mostram comprometidos com o esclarecimento dos fatos não deixam de a todo momento defender seus interesses político-partidários. Afinal, apesar do contexto de muito sofrimento provocado pela pandemia, o jogo político está posto e os jogadores nem sempre respeitam as regras.
Mas o que realmente está em jogo? O número de mortos e infectados que cresce a cada dia? A necessidade de pôr fim a uma gestão que se mostra no mínimo confusa? O uso político da pandemia para angariar votos? As opiniões divergem e cada um prefere repercutir da maneira que melhor lhe convém. Ciência e opinião política são tratadas como se fossem a mesma coisa. As consequências têm sido desastrosas.
O reconhecimento de que as pessoas que fazem ciência não sejam neutras não significa consequentemente que o resultado de suas pesquisas sejam apenas ideologias e opiniões. Por isso, a ciência tem seus métodos, contraprovas e precisa do reconhecimento dos pares. O conhecimento científico, assim como todas as produções humanas, também é histórico. Novas pesquisas podem trazer novos resultados e provocar mudanças. Os resultados das pesquisas científicas também podem ter um uso político.
Por fim, o reconhecimento dessas características da ciência não pode fazer dela apenas mais uma opinião, principalmente quando o que está em jogo são vidas humanas. Ainda que alguns queiram modificar a história, algumas lições sobre as descobertas científicas já foram repetidas à exaustão. Uma coisa são os fatos outra são as versões. A ciência se apoia nos fatos, as opiniões são diversas.
(*) Luís Fernando Lopes, Doutor em Educação, professor da Área de Humanidades do Centro Universitário Internacional UNINTER